Nutrição comportamental e mindful eating: como o comportamento pode afetar a qualidade da alimentação
Para a nutrição comportamental a questão vai além dos alimentos ingeridos.
Em um país como o Brasil, onde mais da metade da população está acima do peso, a preocupação com a alimentação faz parte da rotina de muitos adultos e até crianças. Difícil encontrar alguém que nunca precisou repensar alimentação, além de outros hábitos saudáveis, como uma rotina de exercícios físicos regulares. No entanto, ficam as dúvidas: porque há tanta dificuldade em atingir o objetivo de emagrecer, apesar dos esforços? O que mais pode gerar resultados para uma alimentação mais saudável e uma saúde melhor?
É na busca por essas respostas que surge o conceito de nutrição comportamental, uma abordagem que vai além da preocupação exclusiva sobre o que se come. O foco está nos aspectos emocionais e sociais da alimentação, ou seja, porque se come, com quem se come e como se come. A nutricionista Fernanda Timerman, especialista na área e uma das idealizadoras do Instituto Nutrição Comportamental, explica que a nutrição comportamental não apoia dietas restritivas e radicais por acreditar que não são sustentáveis a longo prazo e, portanto, não atuam na efetiva mudança de comportamento.
Outro ponto é que a nutrição comportamental prioriza a autonomia do paciente. A ideia é que ele esteja preparado para fazer suas próprias escolhas sem a necessidade de seguir um cardápio. “A prescrição de dietas ou cardápios, bastante presente na nutrição tradicional, é substituída por estratégias e técnicas de mudança de comportamento que vão da elaboração de metas à técnicas de comer com atenção plena e comer intuitivo, em que o paciente é conduzido à se reconectar com seus sinais internos de fome e saciedade para (re) aprender a comer de acordo com a própria vontade ao invés de seguir o horário da dieta ou a quantidade do cardápio” explica Fernanda Timerman.
A nutrição comportamental é recomendada para todos os tipos de pacientes e atende desde quem quer perder peso até aqueles que buscam uma alimentação especial, como esportistas e pessoas que desenvolveram distúrbios alimentares ou doenças crônicas como diabetes e pressão alta. As consultas são menos prescritivas e mais pautadas em técnicas para ajudar nas dificuldades de cada indivíduo em sua relação com a comida. Uma publicação da organização americana Academy of Nutrition and Dietetics destacou a importância de um aconselhamento nutricional focado no paciente como uma ferramenta para prevenção e tratamento de doenças crônicas, além de contribuir para perda de peso, melhorar níveis de glicose e diminuir fatores de risco de doenças cardiovasculares.
Mindful eating: comendo com atenção plena
Entre os recursos citados pela nutricionista Fernanda Timerman está o “comer com atenção plena”, conhecido também pela sua grafia em inglês Mindful Eating. A ideia, que pode ser facilmente incorporada no dia a dia, consiste em prestar atenção no momento da alimentação. É uma prática do budismo projetada nesse hábito tão essencial para manutenção da vida que é comer.
O objetivo é evitar todo tipo de distração no momento das refeições, como televisão e celular. Por outro lado, a atenção deve estar voltada para os sentidos: foque no cheiro, na textura, no sabor e evite utilizar esse momento para pensar em outros assuntos da vida. Além de promover uma consciência muito maior a respeito da qualidade do que se está ingerindo, essa estratégia também evita que a pessoa coma mais do que precisa, já que o cérebro demora alguns minutos para registrar a saciedade. Fica mais fácil perceber se já comeu o suficiente se estiver atento aos primeiros sinais de saciedade. Outra boa dica é evitar se focar apenas na tabela nutricional do alimento e se abrir para o prazer durante a alimentação.
Essas orientações também estão de acordo com o Guia Alimentar Para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde e disponível para acesso gratuito na internet. No guia, o Ministério pontua que a alimentação proporciona prazer e que além do que é consumido, são importantes o tempo e a atenção dedicados ao comer, além do ambiente onde se partilham as refeições. Os benefícios da adoção dessas orientações são vários, incluindo melhor digestão dos alimentos, controle mais eficiente do quanto comemos e, de modo geral, mais prazer com a alimentação.” O Guia explica a importância de se concentrar no ato de comer para perceber os diferentes sabores e texturas e a influência de um ambiente sem distrações como cheiros, sons e iluminação. De acordo com a publicação, tudo isso é um convite para que se coma devagar, apreciando o alimento e evitando excessos. Ative os sentidos e bom apetite!